A subsistência da espécie humana,
com os actuais padrões de vida de uma sociedade industrializada, obriga à
utilização da geodiversidade e, em alguns casos, à sua destruição.
De facto, se observarmos o
ambiente que nos rodeia, constatamos que a geodiversidade está cada vez mais
sujeita à destruição, não só por causas naturais de deterioração, como também
em resultado das atividades humanas.
Direta ou indiretamente, a
atividade humana tem deixado marcas no meio natural, degradando ou mesmo
destruindo, total ou parcialmente, um ou vários elementos da diversidade
geológica. Estas marcas, ou impactes vão desde o impacte visual causado pela
poluição até à interrupção do processo natural, passando pela fragmentação de
interesse.
Desta forma a geodiversidade
encontra-se hoje ameaçada a diversas escalas e em graus distintos.
Entre as principais ameaças podemos citar:
- A exploração de recursos geológicos
As atividades de exploração de recursos minerais podem
constituir uma ameaça à geodiversidade ao nível da paisagem ou ao nível do
afloramento.
Uma das ameaças com maior impacto visual, é a exploração
de recursos geológicos e/ou geomorfológicos. As pedreiras são um exemplo
bastante expressivo enquanto ameaça aos recursos geológicos, não pela extração
em si, mas sim pela quantidade de recursos extraídos globalmente. Um dos
problemas fundamentais da extração destes recursos é o impacto paisagístico. Um
exemplo encontra-se na vertente Sul da Serra de Sicó, sendo constituído por
dois locais de extração de brita, em que uma destas pedreiras é das maiores da
Europa. É importante ainda notar que muitas pedreiras abandonadas em Portugal
não objeto de recuperação paisagística. Um raro bom exemplo está a ocorrer no Concelho
da Batalha, onde uma parceria entre município e empresa privada irá permitir a recuperação
paisagística em grande escala numa antiga pedreira.
Outra das ameaças na extração dos recursos geológicos é a extração
de raros filões e a destruição de formas de relevo ou o desaparecimento de
depósitos raros, utilizados, por exemplo, para a construção civil.
- O desenvolvimento de obras e estruturas
A atividade antrópica utiliza o meio físico enquanto base
para as suas atividades do dia-a-dia e isto implica, cada vez mais, a expansão
da área ocupada, seja devido à expansão urbana, seja devido à construção de
estradas ou de infraestruturas. O problema a que geralmente se assiste é,
fundamentalmente, a execução destas mesmas obras não ter sempre em conta a
minimização de alguns impactes, os estudos de impacte ambiental ou mesmo as
avaliações de incidência ambiental, que, em regra, não contemplam os impactos
sobre a geodiversidade. A geoconservação não é geralmente considerada nestes
estudos. Este facto constata-se, por exemplo, na construção de estradas, urbanizações, barragens ou infraestruturas,
como espelhos de água e ultimamente em alguns parques eólicos, instalados em
áreas muito sensíveis do ponto de vista patrimonial (natural ou cultural).
Um
exemplo é a destruição de extensas áreas de lapiás de várias tipologias nas
Serras de Ariques e Alvaiázere, devido à construção de infraestruturas.
- A gestão das bacias hidrográficas
Algumas bacias hidrográficas portuguesas foram sujeitas a
enormes intervenções no sentido da regularização de caudais e prevenção de
cheias. Estas obras, com um profundo impacte tanto na geodiversidade como na
biodiversidade, passam pela construção de barragens, diques e canais que
alteram a dinâmica natural dos cursos de água. Um caso exemplar foi a
intervenção feita na bacia do Rio Mondego (Brilha, 2005).
- A Florestação, desflorestação e agricultura
O crescimento da vegetação pode constituir, por si só, um
fator de ocultação das características geológicas (Brilha, 2005).
Antes do conhecido fenómeno, “êxodo rural”, muitas áreas
do interior de Portugal eram cuidadas, os campos cultivados e o mato cortado. Atualmente,
muitas dessas áreas estão abandonadas, promovendo não só o agravar da
problemática dos incêndios, mas também a ocultação de elementos geológicos e
geomorfológicos de elevado valor, até então visíveis.
Desta forma os incêndios promovem a erosão dos solos, já
que com extensas áreas desflorestadas e sem vegetação, estes facilmente são erodidos
pelas primeiras chuvas.
Algumas regiões foram radicalmente transformadas em poucas
décadas, como é o caso do Alentejo, em benefício de práticas agrícolas,
ameaçando parte da geodiversidade da região, já que a agricultura intensiva
facilmente causa impactes muito negativos sobre os solos e erosão dos mesmos. A
utilização de adubos é também fator de grande ameaça de um dos valores mais
esquecidos da geodiversidade, os recursos aquíferos.
- As atividades militares
O desenvolvimento de atividades militares por vezes corre,
em zonas sensíveis, quer para a geodiversidade quer para a biodiversidade e
contribui para o aumento da erosão dos solos para a contaminação dos solos e
das águas superficiais e subterrâneas.
O impacte das atividades militares sobre o meio ambiente não
tem sido discutido em Portugal, mas o mesmo já não acontece em países envolvidos
em intensas atividades militares, nos quais os impactes sobre a geodiversidade
são já englobados nos estudos de avaliação.
- As atividades recreativas e turísticas
As atividades turísticas e recreativas estão
cada vez mais em voga e representam um mercado com muito potencial. O intitulado
“turismo verde” é cada vez mais um objeto apetecido, especialmente pelos
habitantes das grandes cidades, que, muitas vezes, sem referências, se deslocam
a áreas muito sensíveis e frequentemente provocam impactos negativos sobre
locais muito apelativos, mas também muito frágeis do ponto de vista ambiental.
Esta situação é agravada pelo facto destas áreas de grande valor patrimonial
não terem muitas vezes planos de gestão, ou mesmo inventários de elementos em
risco.
- A colheita de amostras geológicas para fins não científicos
Esta atividade tem sido responsável por uma verdadeira
delapidação de um património natural que a todos pertence (Brilha, 2005).
As amostras geológicas para fins não
científicos são um bom exemplo desta problemática, uma vez que tem como
objetivo o lucro ou o enriquecimento de coleções privadas.
As visitas de estudo são outro bom
exemplo de colheita destas amostras. No caso de haver alguns fósseis ou
amostras geológicas raras, é fundamental preservar estas mesmas amostras, não
as recolhendo, senão para fins científicos.
- A iliteracia cultural
Uma outra ameaça é a falta de informação da sociedade sobre
os valores da geodiversidade. Brilha (2005), refere a iliteracia cultural, termo
mais abrangente para esta ameaça muito presente nas sociedades atuais.
A iliteracia cultural é considerada a ameaça mais grave à
geodiversidade, já que a própria classe política, não tem um conhecimento
razoável sobre a temática, impossibilitando por vezes a proteção em termos
legislativos de locais com efetivo interesse geológico e/ou geomorfológico.
O desconhecimento dos valores da
biodiversidade e da geodiversidade, bem como a sua importância como contributo
fundamental para o Homem e para os vários sistemas vivos, podem originar
situações que levadas a extremos nos conduzirão à dizimação de um património
único.
O problema não se prende com o usufruto e utilidade deste património do qual o Homem pode beneficiar, o problema está em não saber utilizá-lo corretamente.
É cada vez mais
urgente consciencializar o cidadão do lugar que ocupa na bio e na
geodiversidade e do modo como melhor se articular com elas, no respeito pelo equilíbrio
ambiental, pela melhoria da qualidade de vida e pela preservação do património a
legar aos vindouros (Brilha, 2005).
Bibliografia:
Documentação gentilmente cedida pela professora.
BRILHA, J. – Património
Geológico e Geoconservação: A conservação da Natureza na sua vertente geológica.
Braga, Palimage Editores, 2005. ISBN: 978-972-8978-03-7. p 40-51.
http://cm-batalha.pt/print.php?id=674
- consultado a 18 de Maio de 2012.
http://paleoviva.fc.ul.pt/almafossil/Grafitos/Grafit01.htm
- consultado a 18 de Maio de 2012.
http://azinheiragate.blogspot.pt/2008_03_01_archive.html
- consultado a 19 de Maio de 2012.
Com
os meus cumprimentos,
LA.
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