A
história da vida na Terra tem sido uma sucessão de espécies com desaparecimento
de algumas e a evolução de outras. As extinções têm ocorrido constantemente ao
longo dos temos geológicos mas, em regra a diversidade especifica tem sido
mantida, embora com flutuações. A Terra já enfrentou 5 extinções em massa,
também designadas pelas “Big Five”.
Segundo Ahmed
Djoghlaf (secretário executivo da Convenção para a Diversidade Biológica da
ONU):
"Estamos
a experimentar a maior onda de extinções de espécies depois do desaparecimento
dos dinossauros. A cada hora, três espécies desaparecem. A cada dia que passa,
extinguem-se mais de 150 espécies. A cada ano, entre 18 mil e 55 mil espécies
desaparecem do mundo".
Podemos
desta forma encarar a extinção como um processo natural. O que já não podemos
aceitar como natural é a velocidade a que atualmente as espécies estão a
desaparecer!
Porquê?
Se compararmos a taxa de extinção das espécies ao longo da história
geológica, percebemos que atualmente esta taxa é 100 a 1.000 vezes superior à
taxa natural, e muito mais elevada do que a taxa que permite o aparecimento de
novas espécies.
Nos
últimos 50 anos, como o aumento do crescimento demográfico, do desenvolvimento
económico e dos anseios por melhores condições de vida, o ser humano provocou
alterações rápidas e extensivas no meio ambiente do que em qualquer outro
período da sua história. O
resultado foi uma perda relevante e em alguns casos irreversível da diversidade
na vida da Terra, comprometendo desta forma as gerações futuras.
Mas, o que ameaça
a biodiversidade?
São
várias as ameaças à biodiversidade. A atividade humana é considerada a
principal responsável. De acordo com o Millennium Ecosystem Assessment,
realizado entre 2001 e 2005, a mudança dos padrões globais da biodiversidade
está relacionada:
a) Indiretamente
com aspetos demográficos, económicos, sociopolíticos, culturais,
religiosos, científicos e tecnológicos;
b) Diretamente
com a alteração dos habitats, alterações climáticas, introdução de
espécies exóticas, sobre-exploração de espécies e poluição:
A perda e degradação de
habitat são a principal ameaça à biodiversidade. Afetam 86% de todas as aves
ameaçadas, 86% dos mamíferos ameaçados e 88% dos anfíbios ameaçados.
Fenómenos
naturais como a seca, os vulcões, o fogo, as pequenas variações de temperatura,
as chuvas sazonais e os terremotos são causas naturais de perda de habitat. Contudo
as principais razões da fragmentação, degradação e perda dos habitats, são as
alterações no uso dos solos pelas atividades humanas como agricultura,
pecuária, desenvolvimento de infraestruturas, exploração de recursos florestais
e rápida urbanização.
Factos: As
terras agrícolas cobrem mais de 25% da superfície terrestre, exceto a
Antártida. Nos últimos tempos, a superfície das matas na Terra teve redução de
40%, os pântanos, de 50%, os recifes de coral, de 20% e os mangais, de 35%.
Factos: A pesca
em alto mar causa grandes danos nos fundos submarinos, com uma perda potencial
de milhões de espécies e recursos genéticos associados. Quase dois terços (60%)
dos grandes rios foram perturbados por barragens e canais. A população utiliza
45% da água que alimenta os rios. O Mar de Aral, que no passado era o 4º maior
mar interno do mundo, poderá desaparecer na próxima década.
Desde a sua origem que
o planeta Terra tem sofrido periodicamente alterações no clima, alternando
entre períodos glaciares e outros com clima mais ameno. Estas variações
climáticas podem ser explicadas devido às alterações na intensidade da radiação
solar, à inclinação do eixo da Terra e à curvatura da sua órbita em torno do
Sol, que modificam o clima numa escala de milhares de anos. Outros fatores que
influenciam o clima são a disposição dos continentes e as correntes marinhas.
No entanto, desde a
revolução industrial, a ação do Homem tem produzido alterações climáticas,
principalmente através da emissão de gases com efeito de estufa, que provocaram
um aquecimento global do clima. O aumento de temperatura média é acompanhado
por fenómenos meteorológicos extremos mais frequentes, que afetam o bom funcionamento
dos ecossistemas.
Factos: O aumento da
temperatura dos oceanos e as alterações químicas induzidas pela absorção de
dióxido de carbono poderão provocar a morte de 95% dos corais da Grande
Barreira, na Austrália, até 2050.
Factos: Em África,
secas mais longas e a pressão sobre o habitat já fragilizado deixam os
elefantes muito vulneráveis às mudanças climáticas.
Factos: Na Ásia, a
elevação do nível do mar poderá causar o desaparecimento dos mangais, apresentando
um risco para a viabilidade da economia local.
- Introdução
de espécies exóticas
A maioria das espécies
é impedida de se expandir por barreiras físicas, ambientais e climáticas. A
introdução de espécies exóticas pode ser acidental ou intencional e é
considerada a segunda maior causa de extinção de espécies, uma vez que
interfere na organização das relações entre espécies e prejudica os serviços
fornecidos pelos ecossistemas, particularmente em ecossistemas isolados, como
rios e ilhas. A frequência de introdução destas espécies aumentou de forma
significativa nos últimos anos, devido às atividades humanas (turismo, comércio)
e ao crescimento demográfico.
Factos: A introdução da
perca do Nilo no Lago Vitória, na África, provocou a extinção de 200 espécies
de peixes endémicas.
Factos: A
importação do sapo cururu (bufo marinus)
pelo governo da Austrália, com objetivo de controlar uma peste nas plantações
de cana-de-açúcar no nordeste do país, tornou-se noutro problema para os
produtores, e não numa solução, uma vez o animal se revelou num predador voraz
de répteis e anfíbios nessa região.
- Sobre-exploração
de espécies
A sobre-exploração da
biodiversidade por atividades, como a caça, a pesca e a extração de
matérias-primas, desgasta esse capital natural, perturbando as relações no
ecossistema, diminuindo o número de espécies e a riqueza do potencial genético,
o que pode provocar a extinção de espécies.
Estima-se que, com a
atual taxa de extração, todas as espécies de peixes atualmente comercializadas
no mundo serão extintas até 2048.
Factos: A pesca do
bacalhau no Atlântico, uma das mais produtivas do mundo, é avaliada hoje a
menos de 1% de sua capacidade original, com efeitos devastadores nas comunidades
locais.
Factos: Na Ásia, a
exploração da madeira para a construção destrói grandes extensões de florestas
tropicais, riquíssimas em biodiversidade.
Factos: A caça, especialmente
em África, reduz a diversidade das espécies de animais de grande porte, como o
elefante, o rinoceronte e a girafa.
A poluição resultante
da atividade humana é também uma grave ameaça à biodiversidade do planeta. A
mesma é caracterizada quando o volume de resíduos produzidos pelo Homem é maior
do que a capacidade do ecossistema em absorvê-los sem ter de alterar seu
próprio funcionamento.
Os Gases com efeito de estufa,
os fertilizantes, os efluentes agrícolas e os resíduos tóxicos prejudicam os
ciclos e relações no ecossistema, afetando negativamente a biodiversidade.
Factos: Na Suécia, a
poluição e a acidez das águas impede a sobrevivência de peixes e plantas em
quatro mil lagos do país.
...
A mãe natureza sempre
nos alimentou, curou e protegeu. No entanto, hoje já não suporta a pressão que a
humanidade lhe tem provocado. Precisa urgentemente de ser alimentada, curada e
protegida.
Temos que agir já e de forma preventiva (Princípio da Precaução –
CNUMAD, 1992). Temos tecnologia e capacidade para mudarmos o mundo, e só falta
na verdade uma consciencialização mais ampla dos verdadeiros problemas que
estamos a enfrentar.
Não nos devemos acomodar e esperar pela confirmação das
previsões para então tomarmos medidas corretivas, geralmente caras e
ineficazes.
LA.
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Bibliografia e
Webgrafia:
Documentação gentilmente
cedida pela professora
Millennium Ecosystem Assessment (2005) Ecosystems and
Human Well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute,
Washington, D.C., pp 8-10 e 42-59.